LÍDICE!
Lídice, belo e carinhoso
nome feminino. Levado por centenas de mulheres brasileiras da América Latina.
Mas de onde veio? Os que conhecem a historia da Europa talvez saibam que em
outros tempos Lídice foi o nome duma vila perto de Praga, capital da
Tchecoslováquia.
No ano 1942 o país ficou
ocupado pela Alemanha nazista. Os planos perversos dos nazis deram certo por alguns
anos. Entre outros por falta de vontade dos países democráticos desenvolvidos
de enfrentar o mal e pelo medo da nova guerra. Adolf Hitler o calculou bem.
Após o “Anschluss” da
Áustria, ele ocupou primeiro a Tchecoslováquia, uma pequena potência econômica
no centro da Europa e nesse tempo, o único país democrático ao leste do Reno.
Foi só depois, quando o exército alemão reforçou o seu arsenal com armas
tchecas, que Alemanha (com a contribuição da União Soviética) destroçou a
Polônia, antes de atacar com ainda mais
força e eficiência militar as potências democráticas da Europa Oeste, as quais
na primeira metade do século XX determinavam a política da maior parte do
mundo.
A vida dos tchecos nos
territórios ocupados piorou quando
Reinhard Heydrich foi nomeado o novo
“Protetor” deles. Heydrich – além de outro responsável pelo plano do extermino
dos Judeus – foi o terceiro mais poderoso homem do “Reich”, depois de
Hitler e Himmler. A sua tarefa e ambição
pessoal foi de domar os rebeldes tchecos nas terras que os nazistas já
automaticamente consideravam como alemãs. As sabotagens nas fábricas e nas ferrovias influenciaram a capacidade
das forças ofensivas do exército alemão. Logo após sua chegada à Praga,
Heydrich decretou a lei marcial sobre o “Protetorado” e a Gestapo apertou as
suas atividades e crueldade.
Quando Heydrich fez deter e
assassinar mesmo as mais respeitadas elites da ex-Tchecoslováquia – sim, eles
participaram na resistência anti-nazista – o governo tcheco, exilado em
Londres, decidiu devolver o golpe. Apoiados pelos peritos do exército
britânico, um grupo de paraquedistas tchecoslovacos foi treinado, equipado e
enviado ao território do “Protetorado”. A operação recebeu o código secreto de
“Anthropoid”. Em maio de 1942 eles perpetraram o atentado a Reinhard Heydrich.
Desencadeou-se um furor
horrível dos nazistas. A morte do terceiro homem do “Reich”, e no coração do
território deles! Milhares de patriotas tchecos foram executados. Membros da
resistência, e mesmo gente civil inocente.
No dia 10 de Junho de 1942,
uma unidade de choque da Gestapo e do exército “SS” invadiu a vila de Lídice,
que tinha aparentemente uma ligação com
os paraquedistas. Só meses depois se soube do indício falso. Mas os nazistas se
vingaram e precisavam mostrar resultados,
em busca dos paraquedistas. Os homens foram executados, as mulheres deportadas
ao campo de concentração do Ravensbruck. A maioria das crianças foi deportada
para outro campo, só algumas, com características arianas, foram trasladadas
para “re-educação” com famílias alemãs. Um pouco das mulheres e das crianças
sobreviveram à guerra. Os prédios foram queimados e detonados pelos ares. O
nome de “Lídice” devia ser obliterado do mapa e esquecido.
"Monumento às Crianças Vítimas da Guerra" esculpido por Marie Uchytilová em 1969 |
Não foi. Ao ouvir da
tragédia de Lídice, uma onda de solidariedade se mostrou no mundo. Muitas
mulheres na América Latina deram o nome de Lídice as suas filhas. E mesmo
algumas cidades em vários países adotaram o nome – como uma vila no Estado do
Rio de Janeiro. Assim, Lídice vive em aqueles nomes. Inclusive a vila theca de
Lídice foi reconstruída.
Campos gramados de Lidice, na República Tcheca (foto: Dagomir Marquezi / DMP) |
Nestes dias se comemoram 75
anos do ato no qual os nazis aniquilaram Lídice.
Lídice fica como símbolo
lembrando para sempre que as democracias nunca devem ceder às ditaduras e
terrorismo e devem estar dispostas a enfrentá-las. A história da Segunda-Guerra
mundial dá até agora a lição de como custou caro às democracias retroceder
frente ao mal, à violência e ao terror.
Jiří
Havlík
Embaixador
da Tchéquia