sexta-feira, 9 de junho de 2017

Notícias Tchecas

LÍDICE! 

   Lídice, belo e carinhoso nome feminino. Levado por centenas de mulheres brasileiras da América Latina. Mas de onde veio? Os que conhecem a historia da Europa talvez saibam que em outros tempos Lídice foi o nome duma vila perto de Praga, capital da Tchecoslováquia.
  
  No ano 1942 o país ficou ocupado pela Alemanha nazista. Os planos perversos dos nazis deram certo por alguns anos. Entre outros por falta de vontade dos países democráticos desenvolvidos de enfrentar o mal e pelo medo da nova guerra. Adolf Hitler o calculou bem. 

 Após o “Anschluss” da Áustria, ele ocupou primeiro a Tchecoslováquia, uma pequena potência econômica no centro da Europa e nesse tempo, o único país democrático ao leste do Reno. Foi só depois, quando o exército alemão reforçou o seu arsenal com armas tchecas, que Alemanha (com a contribuição da União Soviética) destroçou a Polônia, antes de atacar  com ainda mais força e eficiência militar as potências democráticas da Europa Oeste, as quais na primeira metade do século XX determinavam a política da maior parte do mundo.
   
  A vida dos tchecos nos territórios ocupados  piorou quando Reinhard Heydrich  foi nomeado o novo “Protetor” deles. Heydrich – além de outro responsável pelo plano do extermino dos Judeus – foi o terceiro mais poderoso homem do “Reich”, depois de Hitler  e Himmler. A sua tarefa e ambição pessoal foi de domar os rebeldes tchecos nas terras que os nazistas já automaticamente consideravam como alemãs. As sabotagens nas fábricas  e nas ferrovias influenciaram a capacidade das forças ofensivas do exército alemão. Logo após sua chegada à Praga, Heydrich decretou a lei marcial sobre o “Protetorado” e a Gestapo apertou as suas atividades e crueldade.
   
  Quando Heydrich fez deter e assassinar mesmo as mais respeitadas elites da ex-Tchecoslováquia – sim, eles participaram na resistência anti-nazista – o governo tcheco, exilado em Londres, decidiu devolver o golpe. Apoiados pelos peritos do exército britânico, um grupo de paraquedistas tchecoslovacos foi treinado, equipado e enviado ao território do “Protetorado”. A operação recebeu o código secreto de “Anthropoid”. Em maio de 1942 eles perpetraram o atentado a  Reinhard Heydrich.

  Desencadeou-se um furor horrível dos nazistas. A morte do terceiro homem do “Reich”, e no coração do território deles! Milhares de patriotas tchecos foram executados. Membros da resistência, e mesmo gente civil inocente.

  No dia 10 de Junho de 1942, uma unidade de choque da Gestapo e do exército “SS” invadiu a vila de Lídice, que tinha aparentemente uma ligação com os paraquedistas. Só meses depois se soube do indício falso. Mas os nazistas se vingaram e  precisavam mostrar resultados, em busca dos paraquedistas. Os homens foram executados, as mulheres deportadas ao campo de concentração do Ravensbruck. A maioria das crianças foi deportada para outro campo, só algumas, com características arianas, foram trasladadas para “re-educação” com famílias alemãs. Um pouco das mulheres e das crianças sobreviveram à guerra. Os prédios foram queimados e detonados pelos ares. O nome de “Lídice” devia ser obliterado do mapa e esquecido.

"Monumento às Crianças Vítimas da Guerra" esculpido por Marie Uchytilová em 1969

  Não foi. Ao ouvir da tragédia de Lídice, uma onda de solidariedade se mostrou no mundo. Muitas mulheres na América Latina deram o nome de Lídice as suas filhas. E mesmo algumas cidades em vários países adotaram o nome – como uma vila no Estado do Rio de Janeiro. Assim, Lídice vive em aqueles nomes. Inclusive a vila theca de Lídice foi reconstruída.

Campos gramados de Lidice, na República Tcheca (foto: Dagomir Marquezi / DMP)
Nestes dias se comemoram 75 anos do ato no qual os nazis aniquilaram Lídice.

Lídice fica como símbolo lembrando para sempre que as democracias nunca devem ceder às ditaduras e terrorismo e devem estar dispostas a enfrentá-las. A história da Segunda-Guerra mundial dá até agora a lição de como custou caro às democracias retroceder frente ao mal, à violência e ao terror.


Jiří Havlík
Embaixador da Tchéquia