quinta-feira, 9 de março de 2017

Notícias Tchecas

     A chamada na capa da revista Concerto deste mês para um artigo assinado pelo conceituado maestro brasileiro Júlio Medaglia é: um tcheco no Brasil. O homenageado pelo texto é Frank Smit, cuja biografia foi lançada recentemente com o título Frank Smit, o violinista. Smit nasceu em 1892 na República Tcheca, estudou violino em Praga e em Viena onde alcançou seus primeiros sucessos em concertos e recitais. Passou várias temporadas na Rússia. Lá tocou, lecionou, se tornou diretor do conservatório em Kharkovm, e se casou com a filha de um nobre russo.  De dote ganhou um caríssimo violino italiano, construído por Guarneri Del Gesù. Sua parada seguinte foi o Oriente quando passou pela Indonésia e pelo Japão. Voltou à Europa fixando-se na Alemanha.
     Sua história não terminou ali. O grande presidente brasileiro Washington Luís, homem extremamente culto, resolveu incentivar o ensino musical no Brasil. Aconselhado por Otakar Sevcik, famoso pedagogo tcheco residente em Viena, escolheu Frank Smit, que, em 1927, assumiu o primeiro violino do Quarteto Brasil. Quando a Rádio Cultura se mudou para o então recém construído e moderníssimo Palácio do Rádio em São Paulo, Frank foi convidado para ser o diretor artístico e lá desenvolveu por longos anos uma programação de alta qualidade. Em 1959, quando Tatiana, sua mulher, faleceu, ele caiu em depressão e resolveu rever as raízes. Voltou para sua pátria. Em 1962, após dar um recital em Praga, saiu a pé pela cidade, admirando os magníficos monumentos históricos da idílica capital. Sentou-se num banco de praça e alí deixou o mundo.
     Frank Smit foi uma pessoa importante no movimento cultural da capital São Paulo. Foi grande divulgador da música brasileira. Colaborou com Villa-Lobos, Souza Lima e Camargo Guarnieri, entre outros. Mas os anais preferem lembrar mais de políticos do que de artistas honestos. O maestro Medaglia, autor do artigo, lamenta que não haja em São Paulo nem mesmo uma rua com o nome desse importante músico. Destino parecido, isto é, o esquecimento, também lhe foi reservado num dicionário de compositores e artistas tchecos, de mais de duas mil páginas.  Esse artista que levou ao mundo o nome da cultura tcheca não mereceu sequer uma linha de citação.


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